Meu Curso de Meditação Vipassana: Uma Jornada de Dor e Auto-Observação

Você já pensou em fazer um curso de meditação Vipassana? Você conhece os benefícios da meditação? Aqui você descobre mais sobre a minha experiência fazendo um curso de Vipassana, e também as razões pelas quais você deveria incorporar a meditação em sua vida diária.

Não tenho certeza de quando o meu interesse pela meditação começou. Provavelmente depois de ler que meditar é um dos 9 hábitos das pessoas ricas, e também de saber os seus benefícios:

• melhora a concentração, processamento de informações e tomada de decisões;

• aumenta a auto-consciência, auto-aceitação e felicidade;

• reduz o stress e ansiedade;

• beneficia a saúde cardiovascular e imunológica;

• você fica mais forte para combater a dor.

Além disso, a meditação desenvolve compaixão, amor, paciência, generosidade e perdão, logo, combina perfeitamente com o meu estilo de vida holístico.

Eu vinha tentando fazer um curso de meditação há pelo menos quatro anos, desde o tempo em que morei em Nova York, mas os cursos nunca se encaixavam no meu horário.

Quando planejei minha viagem de cinco meses para a Ásia, um dos meus objetivos era finalmente fazer um curso de meditação.

Eu decidi seguir a recomendação de um amigo e fazer um curso de Vipassana, uma das pelo menos 20 técnicas de meditação.

Fazendo yoga em Trolltunga, Noruega.
Fazendo yoga em Trolltunga, Noruega.

A Meditação Vipassana

Vipassana é uma das técnicas mais antigas da Índia e tem sido ensinada há mais de 2.500 anos. Na verdade, acredita-se que Vipassana foi desenvolvida por Buda.

O principal objetivo da meditação Vipassana é nos tornar seres humanos melhores, desenvolver amor e compaixão para conosco e para com as pessoas ao nosso redor.

Essa técnica não sectária é uma forma de autotransformação através da auto-observação. Ela usa a atenção plena na respiração, pensamentos, sentimentos e ações para obter insights sobre a verdadeira natureza da realidade. Também para experimentar a verdade universal da impermanência, sofrimento e ausência de ego.

A técnica consiste em observar sensações por todo o corpo, entender sua natureza (bruta ou sutil), e através do desenvolvendo da equanimidade, aprender a não reagir a elas.

Meditadores são encorajados a escanear seus corpos, da cabeça aos pés e dos pés à cabeça, à procura de sensações (dor, calor, coceira, pressão, pulsação, vibração, etc), reconhecer essas sensações, e entender que elas surgem e, em seguida, passam. Não deve haver qualquer apego ou aversão a estas sensações.

Durante o curso residencial de 10 dias de meditação vipassana, a mente é treinada para se tornar mais apurada a fim de reconhecer essas sensações.

Na verdade, toda a prática é um treinamento mental e, por causa disso, as pessoas interessadas em aprender meditação Vipassana devem fazer um curso.

O Curso de 10 Dias de Meditação Vipassana

Durante o curso de meditação, os participantes aprendem as noções básicas da meditação Vipassana, assim como duas outras técnicas (Anapana Sati e Metta).

A técnica é ensinada passo-a-passo a cada dia e praticada o suficiente para experimentar os seus benefícios.

Para atender o curso de meditação vipassana, os participantes são obrigados a seguir um rigoroso código de disciplina, que inclui:

  • Abster-se de matar qualquer ser;
  • Abster-se de roubar;
  • Abster-se de qualquer atividade sexual;
  • Abster-se de falar mentiras;
  • Abster-se de qualquer bebida alcoólica;
  • Aceitação do professor e da técnica;
  • Silêncio nobre (é proibida qualquer forma de comunicação com outros estudantes);
  • Música, leitura e escrita não são permitidos;
  • Contato físico, contato com o exterior, yoga, e exercícios físicos não são permitidos…

Esse código de disciplina é para o benefício e proteção dos meditadores. É uma parte da meditação e do processo de autopurificação por introspecção.

Para mim, com exceção do nobre silêncio, as regras não são tão difíceis de seguir.

Curso de meditação
O “Silêncio Nobre” é obrigatório em um curso de meditação Vipassana

O curso de meditação Vipassana é dividido em três etapas:

1. A primeira é abster-se de matar, roubar, envolver-se em atividade sexual, falso discurso e ingerir bebidas alcoólicas durante o período do curso;

2. A segunda é desenvolver domínio sobre a mente aprendendo a fixar a atenção na respiração (técnica Anapana); observar sensações por todo o corpo, entender sua natureza e desenvolver equanimidade, aprendendo a não reagir a elas (técnica Vipassana);

3. O último passo é aprender a meditação da bondade ou de boa vontade para com todos (técnica Metta).

O curso começa com um período de inscrições que vai das 14h às 16h, orientações, seguidos por 10 dias de meditação e termina na manhã do 11° dia, por volta das 07h30min.

Calendário do Curso

O retiro de meditação Vipassana tem um calendário super rigoroso, todos os alunos são obrigados a seguir:

4:00Acordar
4:30-6:30Meditação no salão ou no quarto
6:30-8:00Café da manhã e descanso
8:00-9:00Meditação em grupo no salão
9:00-11:00Meditação no salão ou no quarto conforme as instruções do professor
11:00-12:00Almoço
12:00-13:00 Descanso e entrevistas com o professor
13:00-14:30Meditação no salão ou no quarto
14:30-15:30Meditação em grupo no salão
15:30-17:00Meditação no salão ou no quarto conforme as instruções do professor
17:00-18:00Lanche e descanso
18:00-19:00Meditação em grupo no salão
19:00-20:15Discurso do Professor no salão
20:15-21:00Meditação em grupo no salão
21:00-21:30Questões ao Professor no salão
21:30Repouso. Apagam-se as luzes

Espera-se que os alunos permaneçam no centro durante todo o período do curso.

Por essa razão, você deve ter a certeza de que quer realmente fazer o curso e, principalmente, se está determinado a se esforçar até o final, caso contrário, você só vai perder seu tempo e pode não obter benefício algum.

O Centro de Meditação Vipassana

Você não tem que ir para a Índia para fazer esse curso, uma vez que existem 176 centros espalhados por todo o mundo, inclusive no Brasil. No entanto, a maioria deles está na Ásia (130 centros).

Eu Fiz o curso no Sarnath Vipassana Center, que está localizado a 3,5 km de Dhammacakkappavattana Sutta, onde Buda deu declaradamente seu primeiro discurso.

O local fica a 1h de tuk-tuk, saindo de Varanasi.

Quando cheguei ao centro da Sarnath-Varanasi, gostei imediatamente!

Ele está situado em uma bela área rural e tem uma atmosfera muito serena.

A bela paisagem campestre da Índia ao redor do centro de meditação de Sarnath-Varanasi
A bela paisagem campestre da Índia ao redor do centro de meditação de Sarnath-Varanasi

Há uma abundância de áreas verdes, incluindo as pequenas hortas, um salão principal, quartos para mulheres e homens em lados opostos, refeitórios (homens e mulheres), um escritório, uma sala pequena e uma pagoda.

Minha Experiência Fazendo Um Retiro de Meditaçao Vipassana na Índia

Eu nunca tinha ouvido falar da meditação Vipassana até que meus amigos Carlo e Alda sugeriram que eu fizesse o curso.

Ao ler o programa do curso e, particularmente, o calendário, os itens que imediatamente chamaram a minha atenção foram o ‘nobre silêncio’ e a ‘ausência do jantar’.

Mais tarde, algumas semanas antes do retiro começar e ao completar o envio da minha inscrição, li tudo novamente. Dessa vez, saber que acordaria todos os dias as 04h da manha foi o que mais chamou minha atenção…

Mas quando defino uma meta, eu trabalho duro para alcançá-la! Assim, não seriam esses desafios que iriam me dissuadir de finalmente fazer o meu curso de meditação.

Terminei fazendo minha inscrição três semanas antes do início do curso e, desde então, não pude conter minha empolgação.

Cheguei ao centro às 15h45min de 17 de Abril de 2017, e já havia alguns participantes lá. Embora houvessem poucos estrangeiros, havia também indianos fazendo o curso.

Como ainda podíamos falar, eu aproveitei a oportunidade para conhecer alguns participantes, enquanto aguardava a minha vez de preencher os formulários e pegar a chave do quarto.

Enquanto eu estava esperando, um participante, abruptamente, decidiu deixar o retiro. Tentei falar com para saber o porquê de sua desistência, mas foi tarde demais, ele já tinha ido…

É evidente que esse retiro de meditação Vipassana não é para todos!

curso de meditação na Índia
Esperando para efetuar minha inscrição.

Apesar de saber que meus próximos dias seriam desafiadores, eu tinha certeza que queria fazer o curso! Então terminei de preencher os formulários, peguei a chave do quarto e me dirigi ao alojamento masculino.

O quarto era muito, muito simples. Havia uma cama com um colchão finíssimo, um mosquiteiro, algumas prateleiras, um ventilador, e um banheiro com dois baldes. Não havia chuveiro.

Tudo estava cheio de poeira, especialmente o colchão.

Limpei tudo e mais tarde fiz mais dois amigos: um suíço de 24 anos, e um blogueiro de São Francisco.

Às 17h fomos ao refeitório para a primeira refeição vegetariana. O som das colheres batendo nos pratos de alumínio me fez sentir como se eu estivesse numa prisão…

Não me interpretem mal, o centro não parece uma prisão, mas parece um pouco como um centro de reabilitação.

Ás 19h todos nós fomos para o salão principal octogonal, Dhamma Hall, para receber instruções sobre o curso de meditação e também para meditar.

O instrutor destacou o código de disciplina, a programação, contou-nos sobre os cantos que haveriam e explicou o que faríamos no dia seguinte.

Depois disso, todos nós começamos a praticar a meditação Anapana, que é baseada apenas na observação da respiração.

Os ventiladores foram desligados e tivemos uma ideia do que nos esperava nos próximos 10 dias…

A partir deste ponto, toda a comunicação foi cessada. Fomos autorizados a falar apenas o estritamente necessário com o instrutor e seus assistentes, todas as outras atividades eram para ser feitas em silêncio.

As badaladas dos sinos eram o sinal para o início e término das nossas atividades.

Na primeira manhã acordei com o som de um sino tocando, me vesti rapidamente e, em seguida, esperei a segunda badalada às 4h30min da manhã, e nada. Mas acabou que eu realmente não tinha ouvido a primeira chamada às 4h, e, por isso, estava pelo menos meia hora atrasado…

Claro que me perdi e tive que perguntar a um funcionário para onde ir. Esse não foi um bom começo!

Cheguei no Dhamma Hall tarde, e todos já estavam meditando. Sentei rapidamente em duas almofadas (feitas do mesmo material fino do colchão do quarto) e comecei a observar a minha respiração.

Mas minhas duas primeiras horas de sessão foram muito dolorosas! Podia sentar de pernas cruzadas, mas não conseguia permanecer na posição mais do que 10 minutos, a coluna começava a doer muito.

Mudava de posição a todo instante na tentativa de encontrar uma que pudesse sustentar por mais tempo, sem sentir dores nas costas…

Se você considerar o fato de que fui de zero de prática e experiência para 10 horas de meditação diária, você pode imaginar como foi difícil…

Além disso, minha mente estava vagando o tempo todo, e eu estava super distraído.

Dhamma Hall
O Dhamma Hall

Às 6h o instrutor ligou o som, e uma voz grave e rouca começou a cantar em Hindi e tradicional Pali (a linguagem da época de Buda).

Às 6h30min saímos da sala para tomar o café da manhã, e notei que minha postura estava um pouco melhor.

O café da manhã diário era muito bom. Eram servidos pelo menos um tipo de fruta, mingau de aveia, chai e comida indiana.

Após o café, tínhamos uma hora para descansar e caminhar. Neste momento, eu normalmente alongava um pouco, principalmente a coluna (deitado na cama e abraçando as pernas), e cochilava.

Às 8h, voltamos para o Dhamma Hall para meditar por três horas.

Outra sessão muito dolorosa, e estava tão quente, tão quente, quase insuportável.

Todos estavam pingando! Até eu, que geralmente não transpiro, estava encharcado. O suor estava literalmente caindo. Não podia acreditar que já estava tão quente aquela hora do dia…

Os ventiladores foram desligados, porque tínhamos que prestar atenção na nossa respiração, e o calor, juntamente com o suor escorrendo pelo meu peito e meus esforços para permanecer sentado, me fizeram perder a concentração totalmente – o efeito oposto do que se está tentando alcançar com a meditação!

Eu acho que até mesmo o instrutor percebeu que todas as 35 pessoas lá estavam cozinhando e nos enviou para meditar no quarto após a primeira hora e meia.

Quando deixamos o salão em direção ao quarto, o rapaz de São Francisco estava com uma cara, que me perguntei se ele ficaria até o final.

Enquanto isso, tinha que aceitar o fato de que as sessões de meditação seriam quente assim, em torno de 40°C, todos os dias. Tive que aprender a ignorar meu suor, ou pelo menos não ser incomodado por ele.

A previsão do tempo para Varanasi durante o período do curso.
A previsão do tempo pra Varanasi durante o período do curso.

A “meditação” no quarto foi muito melhor, porque pude ligar o ventilador e sentar confortavelmente na cama. Mas acabei cochilando e não meditei por muito tempo. Só acordei com o som do sino tocando.

Tivemos uma hora de almoço, 11-12h, e depois fui para a primeira entrevista com o instrutor.

O professor, um senhor de corpo franzino, baixa estatura, calvo, de mais ou menos 60 anos, ouviu minhas objeções e disse que eu deveria me esforçar mais.

Quando eu disse que eu não conseguia manter a posição sentado por muito tempo, porque nunca meditei antes, ele respondeu: – “Todo mundo passa por essa fase. Duplique sua autoconfiança e você será capaz de sentar por duas, três, até cinco horas…”

Deixei o salão com essa palavra (autoconfiança) ressoando em minha mente…

Logo depois, voltamos para o Dhamma Hall para mais prática.

Imediatamente sentei com as pernas cruzadas, e, no primeiro momento, a sensação foi incrível. Pensei: “Posso sentar-me assim durante horas!” Mas alguns minutos depois, a dor nas costas começou novamente…

Percebi que tinha que me concentrar no exercício e esquecer a dor, ou pelo menos aprender a lidar com ela.

Mas a minha mente começou a vagar novamente.

Estava planejando uma viagem para 2018 e, em seguida, uma música de Katy Perry, “California Gurls”, surgiu em minha cabeça.

Lá fora, os pássaros estavam cantando, árvores balançando, e uma música frenética tocando…

Todas essas distrações, enquanto eu deveria estar apenas observando minha respiração com a mente tranquila…

Parecia que a meditação seria muito mais difícil do que pensei!!

A música California gurls apareceu em mente só porque o cara sentado ao meu lado era de São Francisco

Os intervalos entre as sessões eram suficientes apenas para beber água, ir ao banheiro, e me esticar um pouco.

Em seguida, voltávamos ao hall, e minhas dores voltavam também.

Às 17h, tivemos um intervalo de uma hora para tomar chai e comer um salgadinho de arroz (a última refeição do dia).

E enquanto o sol estava se pondo, seguíamos para o Dhamma Hall para meditar por mais uma hora.

Todas as noites, das 19h às 20h30min, havia um grupo de discussão, que, na verdade consistia na apresentação de um vídeo explicativo sobre a técnica meditativa e dava uma prévia do que faríamos no dia seguinte.

Nessa primeira noite aprendi algo muito importante. Nossa mente, particularmente a minha, está sempre conectando fatos do passado e do futuro, e, ao fazê-lo, escapamos do presente. Parece que não quer viver o presente…

Mas temos que aprender a viver o presente! Apreciar o presente, seja o que for. Se você estiver apenas bebendo um pouco de água, aprecie o copo d’água e afaste qualquer outro pensamento que não está relacionado a ele.

Assim, durante a meditação, quando outros pensamentos surgiam, eu os rejeitava e dizia: isso não é relevante agora. E eu continuo a fazer as tais afirmações a cada vez que medito.

Depois do vídeo, voltamos para o Dhamma Hall para meditar por mais 30 minutos.

Finalmente, voltei para o meu quarto às 21h, tomei meu segundo banho frio do dia, e fui para a cama.

O primeiro dia de meditação havia terminado, e eu tentei não pensar muito sobre o fato de que ainda haviam mais 9 dias de calor e desconforto pela frente…

Na manhã do segundo dia, eu levantei a tempo de não perder o soar dos sinos, e, por isso, o dia já começou muito melhor.

Os dois dias seguintes foram muito semelhantes ao primeiro, mas, pelo menos, não estavam tão quentes.

Dessa vez tivemos que concentrar a nossa meditação no triângulo formado entre a parte superior do nariz e da boca, a fim de encontrar algumas sensações (2º dia); ou apenas na área entre o nariz e a boca (3º dia).

Ainda sofria com as dores e mudava de posição toda hora, porém já conseguia sentar de pernas cruzadas por 20 minutos sem me mover, o que me fez muito feliz.

Além das distrações já mencionadas, agora tinha mais duas: um homem arrotando alto a cada minuto, o dia inteiro; e outro, peidando inescrupulosamente. Fiquei irritadíssimo, mas tive que aprender a aguentar esses dois durante todo o curso…

A partir do quarto dia, quando começaram a ensinar a técnica Vipassana, haveria três sessões obrigatórias de uma hora, onde ninguém poderia deixar o Dhamma Hall, mudar de posição, ou mesmo mover-se.

Decidi usar uma cadeira para essas sessões, uma vez que percebi que não poderia sentar de pernas cruzadas por uma hora.

Sentado na cadeira era muito melhor, embora ainda sentisse dores nas minhas costas. No entanto, depois de 45min, comecei a sentir dores nas nádegas e nas solas dos pés…

Muitas vezes, em torno de 40-45min, esquecia completamente o exercício de meditação e rezava para que iniciasse o canto, pois sabia que aguentaria os 5min finais…

O quinto e sexto dias foram muito semelhantes, buscávamos por sensações em nossos corpos.

A única diferença é que no 5° dia, tivemos de fazê-lo da cabeça aos pés e, no dia seguinte, tivemos que reverter o processo, indo dos pés à cabeça, o dia inteiro…

Pra mim, a sensação mais comum que experimentei foi sentir pressão, especialmente no meu peito e queixo.

Bem, se isso soa chato, sentar por 10 horas, à procura de sensações no corpo, imagina como foi com todas essas distrações…

Centro de meditação em Sarnath-Varanasi, Índia
Pelo menos durante os intervalos, tinha oportunidade de refrescar a mente caminhando por esta bela área verde.

No sexto dia, eu me peguei debatendo comigo mesmo que o exercício não era chato, e que aquela era a única chance que eu tinha de praticá-lo.

Mas minha mente começou a vagar novamente, e, para completar, eu estava tendo pensamentos eróticos…

Estava lá para purificar minha mente, como poderia ter esses pensamentos ??? Percebi que tinha que estar mais focado e também que precisava dobrar minha autoconfiança, a fim de continuar a fazer o exercício.

No sétimo dia estava me desafiando, tentando permanecer sentado o máximo que podia.

Consegui ficar sentado na cadeira por 1h30min e de pernas cruzadas por 30min. Estava tão feliz e orgulhoso de mim mesmo, porém isso estava me causando mais dores…

Eventualmente, percebi que tinha que parar com esse desafio sem sentido, porque estava me machucando muito, e, no final das contas, só precisaria ficar sentado por 1h mesmo pra meditar.

Ainda tinha os pensamentos eróticos poluindo minha mente, mas diminuíram bastante em comparação ao dia anterior.

O oitavo e nono dias foram muito rápidos, a prática estava muito melhor, mas a minha dor nunca cessou.

De acordo com a técnica Vipassana, cada vez que reagimos às sensações no nosso corpo, criamos um sankara, um apego positivo ou negativo. Como cada sensação é temporária, ela vem e vai, quando permanecemos equânimes, paramos de criar novas sankaras.

Durante o curso, fomos eliminando velhos sankaras e aprendemos a não criar novos.

O problema é, o que você vai fazer se você não acreditar nesses princípios? Lembra que um dos códigos de disciplina é aceitar o professor e a técnica? E que ninguém pode deixar o curso antes do final?

Bem, além das duas pessoas que deixaram o centro na primeira manhã, um francês desistiu das aulas no sexto dia (mas manteve-se no centro), e um indiano foi embora no sétimo dia – tão perto do fim!

Esse curso de meditação Vipassana de 10 dias definitivamente não é fácil, e nem para todos!

O curso de meditação Vipassana de 10 dias definitivamente não é fácil, e nem para todos!

No décimo dia, quando pudemos conversar novamente, notei que todas os indianos estavam extremamente felizes, e a felicidade deles contagiou a todos nós estrangeiros.

Foi a primeira vez em 10 dias que tivemos a oportunidade de conversar com eles, e eu descobri que alguns deles estavam fazendo o curso pela segunda ou mesmo terceira vez.

Eles foram muito simpáticos e alegres, e nos asseguraram que Vipassana é a melhor técnica de meditação.

O décimo dia foi bem relaxante em comparação com os outros.

Só tivemos as três sessões obrigatórias e aprendemos a meditação de boas vibrações, amor e bondade (técnica Metta), que consiste em repetir frases como: “Que todos os seres sejam felizes, pacíficos, solidários …”, “Posso gerar amor, amor verdadeiro, amor compassivo…”, “que possam compartilhar a minha paz, minha harmonia…”

No décimo primeiro dia, acordamos às 4h pela última vez, fomos para o mini-salão receber as instruções de como praticar a meditação em casa, e depois para o Dhamma Hall para a última sessão em grupo, mas, dessa vez, apenas a técnica metta foi praticada.

Deixei o centro me sentindo um pouco estranho, mas ainda acompanhei alguns colegas do centro para meditar no local onde Buda proferiu o seu primeiro discurso.

Também visitamos alguns pontos turísticos em Sarnath.

Cheguei em Varanasi com a sensação de que algo em mim havia mudado.

Não só por causa do curso, mas também por conta de todas as experiências que tive em Varanasi, e em toda a minha viagem à Índia.

Fazer esse curso de meditação Vipassana e, principalmente não falar durante esses dez dias, foi muito benéfico!

No final, ouvi uma participante dizer que o curso foi a coisa mais difícil que ela já fez na vida.

Tenho certeza de que aqueles que trabalharam de forma diligente e pacientemente obtiveram bons resultados.

Os Benefícios de Praticar a Meditação Vipassana

Tendo feito o meu primeiro retiro, estou apto a meditar e desfrutar de seus benefícios.

Alguns deles eu já experimentei durante os primeiros dias do curso, outros só se tornaram mais claros para mim depois de meditar diariamente, depois de quase um mês. E tenho certeza de que outros benefícios ainda estão por vir.

O que eu notei até o momento foi:

Minha postura corporal melhorou

Desde o primeiro dia, notei que minha postura estava melhorando.

Deixava o Dhamma Hall todo entrevado, mas pela primeira vez na minha vida pude sentar com as costas retas e os dois pés no chão inconscientemente.

Agora tenho que estar vigilante para mantê-la.

Minha audição ficou mais apurada

Sou o tipo de pessoa que fala mais do que ouve. E, por causa disso, minha audição não era muito sensível.

Durante o curso de meditação, eu podia adivinhar quem estava saindo ou chegando ao Dhamma Hall, apenas ouvindo os passos e identificando os lugares que os alunos estavam sentado… Tudo com os olhos fechados.

Eu acredito que agora eu posso prestar mais atenção quando alguém está falando comigo, e nos sons que me cercam.

Dei uma acalmada

Sou super dinâmico e enérgico, e quero fazer 300 coisas num dia. E esta pode ser a razão pela qual minha cabeça está sempre cheia… Embora eu seja uma pessoa calma, mas minha mente é um agito só.

Ao praticar a meditação, sinto-me mais calmo e relaxado. Minha mente ainda vagueia, ligando uma coisa a outra, mas muito menos do que antes.

Limitei o uso da tecnologia

No começo pensei que eu iria enlouquecer sem falar por dez dias, mas, honestamente, eu adorei!

Durante o curso de meditação, percebi como nos tornamos escravizados aos nossos telefones, computadores e Internet.

Parece que não podemos passar um único dia sem checar nosso status no Facebook, Instagram ou e-mails. Sério???

Claro que podemos, mas nós somos tão dependentes deles que nos sentimos como se nós não pudéssemos. No meu caso, também incluo meu blog, que é uma parte de mim.

Mas desde que deixei o curso, tenho usado menos as redes sociais e Internet, e também vou estabelecer um dia sem celular, computador e Internet.

Espero ter oportunidade de fazer outros retiros que exijam silêncio nobre!

Vivo o presente

Como na minha vida aconteceram muitas coisas que nunca imaginei, não sou o tipo de pessoa que se preocupa muito com o futuro. No entanto, estou sempre me perguntando: – E agora?

Durante o curso de meditação, aprendi a aproveitar o momento que estou vivendo, e a neutralizar os pensamentos que não estão relacionados a ele.

Estou menos apegado às coisas materiais

Durante o curso de meditação aprendemos a não criar qualquer apego ou aversão as nossa sensações. E devemos relacionar com tudo na vida.

Estar ligado a qualquer coisa só nos faz sofrer quando a perdemos.

Assim, menos apego, menos sofrimento, menos miséria. Isso foi mencionado no primeiro dia do curso, mas é um exercício constante.

Sinto-me mais forte para enfrentar as vicissitudes da vida

Outra lição aprendida foi a de que cada sensação surge e passa, como tudo na vida.

Todos nós temos momentos difíceis, mas temos de lembrar que nada é para sempre. Temos que manter isso em mente em todos os momentos!

De acordo com as instruções recebidas no último dia, temos que meditar por uma hora, duas vezes ao dia, e praticar as técnicas Vipassana e Metta, por pelo menos um ano.

Parece muito passar duas horas do dia meditando. Pensei o mesmo. Mas confesso que durante quase um mês, desde que eu terminei o curso de meditação, medito todos os dias e realmente sinto necessidade de meditar.

Da mesma forma que meu corpo sente necessidade de ir para a academia para fazer exercícios, minha mente sente necessidade de meditar para esquecer os problemas, as preocupações, e relaxar.

A meditação está se tornando a cada dia mais popular, mas muitas pessoas ainda não conhecem os seus benefícios.

Estou super feliz por finalmente ter feito o curso de meditação Vipassana e incorporei à técnica à minha rotina diária.

Me sinto uma pessoa muito melhor agora.

Namastê!

Visitando Varanasi

Onde fica Varanasi?

Varanasi está localizada às margens do Rio Ganges, no estado de Uttar Pradesh, no norte da Índa, 320Km ao sudeste da capital, Lucknow e 121Km ao leste de Allahabad (veja mapa aqui).

Como chegar lá?

Você pode ir à Varanasi de ônibus, trem ou avião.

Para comparar a passagem de trem ou ônibus, a melhor opção é procurar uma agência de viagens, porém você pode checar o horário dos trens no site da Indian Railways Indian Railway.

Já de avião, você pode usar o aeroporto internacional de Varanasi, localizado a cerca de uma hora da cidade.

Algumas das companhias aéreas que operam voos pra lá são: Indigo, SpiceJet, Air India e Hahn Air.

Reserve seus voos com Skyscanner, que é o site que eu uso e confio.

Melhor época para visitar?

A melhor época para visitar Varanasi é durante o inverno, de outubro a março, quando as temperaturas estão mais moderadas e também acontecem os festivais, como, por exemplo, o Diwali (Festival da Luz) e Ganga Festival.

Eu visitei Varanasi no final de Abril e fazia um calor insuportável (na casa dos 40C todos os dias).

Onde ficar em Varanasi?

O melhor lugar pra ficar em Varanasi é perto do Dasaswamedh Ghat, um dos principais ghats da cidade.

Aqui vai uma lista de alguns hotéis que e recomendo:

• Luxo: Brijrama Palace
• Ótimo Custo x Benefício: Ganges Inn e Shivakash Guest House.
• Econômico: Marigold Guest House.

Custos da Viagem?

Seguro de viagem por 5 meses pelo sudeste asiático: R$ 844 com a World Nomads.
• Uma noite no Rivera Palace: Rs 1700 (R$ 83)
• Duas noites no Ganges Inn Hotel: Rs 2000 (R$ 98)
• Ônibus de Agra para Varanasi: Rs 1850 (R$ 90 )
• Passeio de barco no Rio Ganges: Rs 100 (R$ 5)

* O curso de meditação Vipassana é gratuito, e no final os participantes podem doar a quantia de dinheiro que quiserem.

Você já fez algum curso de meditação? Como foi sua experiência? Compartilhe conosco nos comentários abaixo 😉

Não esqueça de salvar esses pins para depois 😉

Planeje sua Viagem Para cada reserva feita pelo meu site eu doou US$ 1 a uma instituição de caridade. Boa Viagem ☺

4 comentários em “Meu Curso de Meditação Vipassana: Uma Jornada de Dor e Auto-Observação”

  1. Eu também já frequentei um curso de meditação Vipassana 10 dias.
    Posso dizer que antes de ir para o curso meditei meio ano antes 30minutos por dia.
    Quando me foi sugerido frequentar o curso, tive que organizar a minha vida para me ausentar durante 10 dias da faculdade onde me encontrava, e tudo resultou, fiz os trabalhos todos e pude ir descansada para o retiro.
    Nos primeiros dias quando aprendemos a tecnica anapana, a minha mente tinha fases em que estava distraida, outras em que estava completamente calma e em paz, contudo com pouca concentracao.
    Quando começamos a faZer meditacao vipassana, as dores pelo corpo eram intensas principalmente nas pernas, a minha mente não parava e eu sentia que me estava a conhecer a mim propria, e que não podia abandonar o barco que é “parte de mim”, sinto muitas emocoes negativas, mas permaneci com tudo o que estava a acontecer. A dado momento, o meu ser, começou por adoptar uma nova postura: concentração e preserverança. Atavés desta pustura em momentos de intenso turbilhao, consegui arranjar uma forma de premaneçer e ser.
    Tive um momento em que deixei de sentir o corpo, e começei elevar o corpo. Outro momento de muito amor por todos os seres ali presentes, e de resto, a simples atitude de aceitar que tudo é impermanente, que eu nao posso segurar nenhum momento mas que todos fazem parte de um grande palco chamado vida.
    Medito ha 3 anos, e posso dizer que a meditacao se tornou uma forma super eficaz de auto-conhecimento, e auto-observação que me permite ancorar me no meu ser e compreender me melhor.
    Aconselho a todos que quiserem viver uma vida mais pacifica a meditar.
    Esta foi e é a minha experiencia da meitacao. Espero ter ajudado 🙂

    Responder
    • Oi Marlene.
      Que ótimo!! Obrigado pelo comentário 😉
      Que bom saber que tivemos experiências semelhantes.
      Também tive momentos que senti o corpo super leve. Na verdade até hoje tenho quando medito.
      É muito difícil hoje em dia as pessoas abrirem mão da vida ocupada para fazer um curso de meditação, infelizmente. As pessoas acham legal meditar, mas daí até tomar alguma iniciativa…
      Feliz que você conseguiu um brecha na faculdade, e que o curso te ajudou muito.
      Também passei e a me conhecer melhor, e pra mim o que é mais impressionante é como mudamos nesses 10 dias… um período tao curto… incrível.
      Tudo de bom Marlene.
      Abraço.

      Responder
  2. Como faço para me inscrever nesta meditação? (nesse mesmo local)
    Tipo, é só ir e chegar? Quanto gastou no total? Eu uso pouca grana e por isso acabo não gerando tanto, gostaria de saber em média quanto gastaria só no básico de existência para ir para lá! Grato!

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    • Oi Rafa.
      Então, você pode fazer esse curso em qualquer lugar do mundo, inclusive no Brasil.
      Acredito que inclui o link do Centro de Meditação no post. Lá tem todos os centros de meditação no Brasil (acho que no nordeste e no estado de SP), e no mundo.
      O curso de meditação é gratuito.
      Tem um post sobre Varanasi no site, e lá tem alguns dos meus gastos.
      É difícil eu te falar quanto gastei, porque estava numa viagem de 5 meses pela Ásia.
      Se precisar de algo mais é só falar.
      Abs e namaste

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